Dia mundial de combate ao HIV/AIDS – casos de cura do HIV no mundo

Dia mundial de combate ao HIV/AIDS – casos de cura do HIV no mundo

Tempo de leitura: 10 minutos

Até 2023 foram relatados cientificamente 8 casos de cura em todo mundo. Sendo que destes casos, 2 deles não sofreram intervenção científica e obtiveram cura espontânea. Esses 2 casos são do gênero feminino, que adquiriram a cura sem uso de medicamentos ou transplante de medula. As outras seis pessoas integram o grupo de indivíduos que foram submetidos a estratégias científicas exitosas.

Lembre-se: De 1% a 3% da população vivendo com HIV recebem o nome de controladoras de elite porque não mostram sinais de possuírem um vírus capaz de se replicar ou infecção ativa, mesmo sem receberem tratamento antirretroviral regular. Porém, em cerca de oito anos, 17% destes tendem a perder o controle, assim, ser controlador de elite não é uma condição permanente.

O conceito por trás do Termo Controlador de Elite para o HIV está naquele que possui a sorologia positiva para HIV, mas mantém o número de cópias do vírus no sangue abaixo dos limites detectáveis pelos exames, mesmo sem o uso de antirretrovirais, além disso, também possui os níveis estáveis de linfócitos CD4.

Foi entre indivíduos assim, que 2 pessoas alcançaram a cura de modo espontâneo. O 1º caso aconteceu em São Francisco – EUA. Loreen Willenbeg apresentou a remissão em 2020. O 2º caso foi revelado por pesquisadores de Harvard. Trata-se de uma Argentina que foi tratada com medicamentos para HIV apenas durante seis meses da sua gestação. Ambas são consideradas casos de cura, hoje.

Por se tratar de pessoas do gênero feminino, isso pode ter alguma relação com uma melhor capacidade do corpo feminino humano em combater o HIV, porém ainda não se tem uma resposta para o que ocorreu até o momento.

Entre os outros 6 casos, 5 destes considerados como “cura do HIV” receberam procedimentos como transplante de medula, células-tronco e quimioterapia, porém, você sabia que existe um caso Brasileiro?

CASO BRASILEIRO

O único caso brasileiro reconhecido internacionalmente, ocorreu em São Paulo e foi apresentado pelo Dr. Ricardo Diaz, oficialmente na Infecto 2023. O professor Infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) relata que um homem de cerca de 35 anos apresentou a cura, após o tratamento experimental descrito a seguir:

O ‘Paciente de São Paulo’, de 35 anos, participou de um ensaio clínico que avaliou vários regimes de fármacos intensificados, em um esforço para reduzir o tamanho do reservatório do HIV. Esta redução é considerada a chave para uma cura funcional, ou seja, a capacidade de permanecer sem antirretrovirais por longo prazo sem rebote viral.

De acordo com a pesquisa, o HIV persiste no organismo em um reservatório dentro do tecido linfoide. Esse tecido é encontrado no baço, amígdalas, apêndice e outros componentes do sistema linfático.

O homem foi diagnosticado com HIV em outubro de 2012. Em um ponto, sua carga viral atingiu mais de 20.000 cópias/ml, indicando que ele não era um controlador de elite natural. Quando entrou no estudo em setembro de 2015, ele tinha supressão viral e estava em tratamento havia mais de dois anos.

Supressão Viral do HIV, Supressão Viral Sustentada ou Supressão Virológica ocorre quando o vírus HIV passa >6 meses, de forma indetectável, nos exames de carga viral atuais, sustentando assim a baixíssima multiplicação viral em seu organismo e supondo o estado de inatividade viral. Nessa fase da infecção pelo HIV, o paciente volta a ter níveis crescentes ou estáveis de células de defesa, o HIV se mantem inerte e preso aos tecidos, dentro de algumas células ou órgãos, porém sem atividade parasitária ou multiplicadora. Infelizmente atingir a supressão viral sustentada não confere a cura para o HIV.

Para o paciente de São Paulo, dois antirretrovirais adicionais foram prescritos: – o Inibidor da Integrase Dolutegravir e o Inibidor de Fusão do HIV Maraviroc – foram incluídos ao seu esquema de três medicamentos padrão, que o paciente já usava (isto é a intensificação) junto a Nicotinamida, uma forma de Niacina, ou Vitamina B3. Ele permaneceu nesta combinação de cinco fármacos e um suplemento por 48 semanas (13 meses). Este paciente foi o único dentre 5 pacientes com a mesma combinação medicamentosa que permaneceu depois de mais 57 semanas (11 meses) sem o coquetel, com carga viral indetectável.

A pesquisa do Dr. Diaz envolveu na sua primeira etapa, em 2013, a participação de 30 voluntários que possuíam carga viral indetectável e, por isso, não podiam temporariamente transmitir a doença. De acordo com o pesquisador brasileiro da Unifesp, foram investigadas duas frentes para a cura da infecção do HIV. A primeira, a partir de medicamentos que consigam eliminar o vírus no momento da sua replicação e que também possam eliminar células em que o HIV fica adormecido, ou seja, em estado de latência. Já a segunda abordagem consistia no desenvolvimento de um tratamento que deve estimular o sistema imunológico a reagir e eliminar células infectadas pelo HIV, aonde remédios comuns não chegam.

A ideia da pesquisa é chegar a uma vacina ou tratamento em que possibilite ensinar o organismo do paciente infectado a como eliminar o vírus e alcançar a cura para o HIV.

Cientificamente falando, o fato de ser um único paciente sob mesmo esquema experimental, sugeriu, em 2020, que não se tratava de uma cura para o HIV e sim um caso de remissão, já que algumas pessoas podem alcançar este status apenas com o uso de antirretrovirais e quando se trata de somente uma pessoa, este seria considerado um caso de “sorte” com a TARV (Terapia Antirretroviral).

É importante salientar que: 

  1. Remissão de uma doença é o período em que a patologia permanece sob controle. Ou seja, o paciente pode estar sem qualquer evidência da doença, mas não é considerado curado, pois ainda existe o risco de o mal retornar ou há necessidade de controlá-lo com remédios. O termo é usado frequentemente em casos de câncer e doenças autoimunes como Lúpus e Psoríase, por exemplo.
  2. Cura de uma doença, entretanto, significa reestabelecer a saúde de forma duradoura para a patologia acometida. Neste caso, não há mais a necessidade de monitorar a patologia e nem do uso de medicamentos, pois a doença, por si só, não poderá mais se manifestar no corpo, sem uma nova infecção.

O grande erro, quando falamos sobre o HIV, é que muitos acreditam que cura é algo definitivo, que uma vez tratado, para sempre tratado e na saúde, não existe este tipo de exatidão. Ter carga viral indetectável pode levar a uma remissão da doença, porém é necessária a manutenção do tratamento, para que a doença não progrida novamente.

Em março de 2019, o paciente iniciou uma interrupção do tratamento intensificador e o uso da TARV. Mais de 15 meses depois, segundo as descrições da pesquisa de Dr. Ricardo Diaz, o homem continuava a ter o RNA do HIV indetectável (a forma de material genético viral medido em um teste de carga viral típico), bem como DNA do HIV indetectável (a forma que em grande parte constitui o reservatório viral). Além disso, o nível de anticorpos do homem diminuiu continuamente, caindo o suficiente para que um teste rápido de anticorpos se tornasse negativo

COMO ESTÁ O CASO DE CURA BRASILEIRO EM 2023?

Infelizmente para o paciente de São Paulo, tido como “Curado do HIV”, que continuou sendo observado pela pesquisa, em períodos de 180 / 180 dias, em setembro de 2020, ele recebeu diagnóstico de sífilis secundária. Naquela época, sua carga viral ainda estava abaixo do limite de detecção. Mas em 10 de novembro, 72 semanas após a interrupção do tratamento, ele apresentou sintomas como febre, calafrios, dor de cabeça e diarreia, e se descobriu que ele tinha uma carga viral superior a 6.300 cópias/ml de HIV. Seus anticorpos contra o HIV também começaram a aumentar nessa época. 

No início de dezembro, ele iniciou um esquema padrão da TARV, baseado em Dolutegravir, Lamivudina e Tenofovir, onde em mais ou menos 1 mês, o mesmo voltou a ser considerado Indetectável.

Atualmente, essa pessoa está vivendo com o vírus de novo, mas não por falha do processo que foi submetido. “Estudos minuciosos evidenciaram que houve uma reinfecção por HIV, ou seja, o vírus detectado é diferente do anterior”, explica Ricardo Diaz

Esse episódio, embora não desejável, poderá gerar uma nova oportunidade, em termos científicos, de reaplicar a tecnologia nacional e comprovar, novamente, a sua eficácia.

Assim, com base na pesquisa brasileira e seus resultados obtidos em 2023, o caso do paciente paulista foi considerado como caso de Cura do HIV, uma vez que é afirmado pelos resultados obtidos pelo Dr. Ricardo Diaz, que o paciente hoje é portador de um vírus novo, de características genéticas diferentes no envelope viral e nas proteínas Gag, o que sugere uma reinfecção pelo HIV e descarta casos de reativação viral por meio de mutação e/ou genotipagem, ou ainda ressurgimento de “cepas antigas” de uma infecção dupla anterior.

INFORMAMOS QUE ESTE ARTIGO É MERAMENTE PARA DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO E QUE NÃO ESTAMOS FAZENDO APOLOGIA A CURA DO HIV, QUE AINDA NÃO EXISTE EM 2023, TAMPOUCO SUGERINDO QUE PACIENTES VIVENDO COM HIV DEVAM TOMAR MAIS MEDICAMENTOS. ESTE TEXTO VISA APENAS SIMPLIFICAR A LINGUAGEM CIENTÍFICA QUE É ABORDADA EM CASOS DE CURA DO HIV RELATADOS MUNDIALMENTE.

NOTA:

Para acesso a pesquisa do Dr. Ricardo Diaz, por favor, fazer contato pelos seguintes canais de comunicação: Tel.: (11) 3385-4113 ou 11 5576-4848 – Ramal: 2811, E-mail: [email protected]

crédito da imagem: conselho nacional de justiça ( rodapé da imagem)

Leia Também:

  1. Agência de notícias da Aids. Infecto 2023/ Cura do HIV: 8 casos no mundo injetam esperança contra epidemia global. Disponível em: https://agenciaaids.com.br/noticia/infecto-2023-cura-do-hiv-8-casos-no-mundo-injetam-esperanca-contra-epidemia-global/#:~:text=Infecto%202023%2F%20Cura%20do%20HIV,contra%20epidemia%20global%20%E2%80%93%20Ag%C3%AAncia%20AIDS&text=Oito%20pessoas%20no%20mundo%20s%C3%A3o,medicamentos%20ou%20transplante%20de%20medula. Por Daniela Silva, Set 2023.
  2. Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde. Notícias HIV/Aids. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br. Nov 2023.
  3. Instituto De Ciencia Tecnologia E Qualidade Industria – ICTQ. Pesquisadores do Brasil descobrem caminho para cura da Aids. Disponível em: https://ictq.com.br/farmacia-clinica/1756-pesquisadores-do-brasil-descobrem-caminho-para-cura-da-aids. Por Marcelo de Valêncio, 2023.
  4. Boletim Vacinas Anti-HIV/Aids. Paciente De São Paulo’ Apresenta Aparente Recuperação Viral Um Ano E Meio Após Interromper Tratamento Do HIV. Disponível em: https://giv.org.br/boletimvacinas/34/paciente-de-sao-paulo-apresenta-aparente-recuperacao-viral-um-ano-e-meio-apos-interromper-tratamento-do-hiv.php Jun 2021. Edição nº 34
  5. Poder 360° São 5 os casos de possível cura do vírus da aids; entenda. Disponível em: https://www.poder360.com.br/saude/ja-sao-5-os-casos-de-cura-do-virus-da-aids-entenda/. Fernanda Basse Fev 2023.
  6. CDC Centers for Disease Control and Prevention. Living with HIV. Available from: https://www.cdc.gov/hiv/basics/livingwithhiv/treatment.html. Nov 2023
  7. ONU – Organização das Nações Unidades. ONU News HIV. Disponível em: https://news.un.org/pt/tags/hiv Nov. 2023.
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