HEPATITE A

HEPATITE A

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A Hepatite A é uma doença infecciosa aguda, causada pelo vírus da Hepatite A (HAV). É causada por um vírus de RNA transmitido entericamente. O vírus da hepatite A é um picornavírus de cadeia única de ácido ribonucleico (RNA). É a causa mais comum de hepatite viral aguda, particularmente comum em crianças e adultos jovens.

Uma pessoa infectada pelo vírus da Hepatite A pode ou não desenvolver a doença. A hepatite A ocorre em todos os países do mundo, inclusive nos países mais desenvolvidos, porém é comum em locais com baixa infraestrutura e onde há pessoas com baixo nível de instrução e cuidados com higiene básica.

A descoberta do vírus ocorreu em 1975, todavia, na Antiguidade, já se registavam surtos da doença, na altura chamada, icterícia infecciosa, e eram frequentes as epidemias em períodos de guerra e de cataclismos.  

Raramente esta doença é fatal, embora em adultos infectados por uma doença hepática crônica – originada por outro vírus ou pelo consumo excessivo de álcool – a infecção pelo vírus da hepatite A (VHA), possa provocar a falência hepática, conhecida por hepatite fulminante; de outro modo, o risco é muito baixo, da ordem de um para mil ou mesmo para dez mil.

NOTAS:

– A infecção pelo vírus da Hepatite A confere imunidade permanente contra a doença.

– Desde 1995 estão disponíveis no Brasil, vacinas contra a Hepatite A que são eficazes e seguras para a população.

– A hepatite infecciona que acomete cães e gatos não é causada pelo HAV de humanos, mas sim pelo adenovírus canino tipo 1 (CAV-1) ou (CAV-2).

– Como a hepatite A não deixa sequelas nem partículas virais remanescentes após a cura, não há contraindicação em doar sangue após esse tipo de hepatite.

O VÍRUS DA HEPATITE A

O vírus da hepatite A (HAV) é um picornavírus entérico. Seu genoma é uma molécula de RNA de fita simples com polaridade de fita positiva de 7478 bases e monocatenário. Essa sequência codifica uma poliproteína que é processada para dar origem às proteínas virais VP-1, VP-2, VP-3 e outras. Este vírus pertence à família Picornaviridae, no Brasil, provoca a doença conhecida como Hepatite A ou Hepatite infecciosa.

O HAV é um vírus de RNA com um tamanho de 7,5 kb e um diâmetro de 27 nm. Possui um sorotipo e múltiplos genótipos. É muito infeccioso e chega a ser a causar mais de 50% de infecção aguda, em pessoas sem anticorpos ou não vacinadas.

As cópias virais de HAV se concentram principalmente no fígado, mas podem também ser encontradas no estomago e no intestino. O vírus da Hepatite A não destrói as células do fígado, mas sim o próprio sistema imunológico do doente, que destrói as células infectadas. Na biopsia do fígado, pode-se encontrar alterações necroinflamatórias (inflamação e destruição dos hepatócitos) na região peri-portal e colestase em graus variados.

NOTAS:

O ser humano é o único hospedeiro natural do vírus. E a transmissão por seringas e agulhas contaminadas é pouco comum.

O consumo de frutos do mar, como mariscos crus ou inadequadamente cozidos, pode levar também a infecção pela doença, uma vez que nesses organismos s concentram o vírus se forem retirados de águas contaminadas.

TRANSMISSÃO

O HAV é transmitido principalmente por via fecal-oral e, portanto, ocorre de forma mais frequente em áreas com pouca higiene, sendo assim, quando uma pessoa não infectada ingere alimentos ou água que foram contaminados com as fezes de uma pessoa infectada. Nas famílias, isso pode acontecer com as mãos sujas quando uma pessoa infectada prepara comida para os familiares. Os surtos de veiculação hídrica, embora pouco frequentes, geralmente estão associados à água contaminada por esgoto ou inadequadamente tratada.

O vírus também pode ser transmitido por contato físico próximo (como sexo oral-anal) com uma pessoa infectada, embora o contato casual entre as pessoas não espalhe o vírus.

SINTOMAS

Os sintomas da hepatite A podem aparecer algumas semanas depois da infecção pelo HAV. Em crianças < 6 anos, 70% das infecções são assintomáticas. A sintomatologia é variável em crianças maiores e adultos.

Caso o paciente desenvolva sintomas, eles podem incluir:

  • Cansaço e fraqueza incomuns;
  • Náuseas e vômitos repentinos e diarreia;
  • Dor ou desconforto abdominal, especialmente no lado superior direito, abaixo das costelas inferiores, que fica sobre o fígado;
  • Fezes de marrom ou cinza;
  • Perda de apetite;
  • Febre baixa;
  • urina escura;
  • dor nas articulações;
  • Amarelecimento da pele e do branco dos olhos (icterícia);
  • Coceira intensa;

Os sintomas podem ainda ser tão leves que passam despercebidos ou são confundidos com os de outras viroses. 

Esses sintomas podem ser relativamente leves e desaparecem em algumas semanas. A recuperação da hepatite A aguda é geralmente total. Raramente ocorre hepatite fulminante se não houver doença hepática prévia.

A disseminação fecal do vírus ocorre antes do aparecimento dos sintomas e geralmente acaba poucos dias depois do início da sintomatologia; portanto, a infecciosidade comumente já cessou quando a hepatite se torna clinicamente evidente.

Diagnóstico da Hepatite A:

Se há suspeita de hepatite viral aguda, os seguintes testes são realizados para triagem das hepatites virais A, B e C:

  • Anticorpo IgM para HAV (IgM anti-HAV)
  • Antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg)
  • Anticorpo central da hepatite B (IgM anti-HBc)
  • Anticorpo contra o vírus da hepatite C (anti-VHC) e RNA da hepatite C (HCV-RNA)

Se o teste IgM anti-HAV é positivo, a hepatite A é diagnosticada. Realiza-se o teste de anticorpo IgG para HAV (anti-HAV IgG) a fim de ajudar a distinguir infecção aguda de prévia. 

Um teste anti-HAV IgG positivo sugere infecção por HAV prévia ou imunidade adquirida. Não há outros testes para hepatite A.

O HAV está presente no sangue apenas durante a infecção aguda e não pode ser detectável clinicamente com os testes disponíveis.

O anticorpo IgM tipicamente aparece em fases precoces da infecção e atinge seu pico em 1 a 2 semanas após o aparecimento da icterícia. Diminui após algumas semanas, seguido pelo aparecimento de IgG protetor (IgG anti-HAV), que geralmente persiste por toda a vida. Dessa forma, o anticorpo IgM é um marcador de infecção aguda, ao passo que o IgG anti-HAV indica apenas exposição prévia ao HAV e imunidade contra infecções recorrentes.

Outros testes

Testes hepáticos são necessários se ainda não tiverem sido feitos; incluem níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina.

Deve-se realizar outros testes para avaliar a função hepática; estes incluem níveis séricos de albumina, bilirrubina, e tempo de protrombina (TP)/razão normalizada internacional (RNI).

TRATAMENTO

Não existem medicamentos específicos para o tratamento desta doença. Este tipo de hepatite trata-se, essencialmente, com repouso, durante a fase aguda, até que os valores das análises hepáticas voltem ao normal e a maioria das pessoas restabelece-se completamente em 3 semanas. 

Também não se recomenda qualquer dieta especial; a alimentação deve ser equilibrada como, aliás, o bom senso indica em todas as ocasiões: rica em proteínas e com baixo teor de gorduras. Nos casos em que surjam diarreia e vómitos, para evitar a desidratação, devem beber-se muitos líquidos, entre os quais não se inclui o álcool, já que este, mesmo em pequena quantidade, agrava a lesão do fígado. As náuseas e a falta de apetite fazem-se sentir com maior intensidade no final do dia e, por essa razão, a refeição mais completa deve ser tomada durante a manhã.

Tratamento de suporte para a sintomatologia pode ser necessário, mantendo a hidratação e tentativa de alimentação.

Como o fígado inflamado perde a capacidade de biotransformar medicamentos, alguns se tornam tóxicos e agravam a doença, por isso deve se evitar medicamentos hepatotóxicos durante a agudização da doença. Alguns fármacos, especialmente narcóticos, analgésicos, tranquilizantes ou fitoterápicos não se devem tomar a não ser que o médico os recomende.

PREVENÇÃO A HEPATITE A

Saneamento melhorado, segurança alimentar e imunização são as formas mais eficazes de combater a hepatite A.

  • A propagação da hepatite A pode ser reduzida por:
  • Abastecimento adequado de água potável segura;
  • Disposição adequada de esgoto nas comunidades; e
  • Práticas de higiene pessoal, como lavar as mãos regularmente antes das refeições e depois de ir ao banheiro.
  • Práticas sexuais com higiene.

VACINA CONTRA HEPATIE A

As vacinas contra hepatite A (HepA) são preparadas com formalina inativada, cultura de células derivada do vírus da hepatite A. Existem 2 vacinas contra a hepatite A (Havrix e Vaqta); ambas estão disponíveis em apresentações para crianças e para adultos.

Uma vacina que combina vacina contra a hepatite A e hepatite B também está disponível.

Havrix®

Havrix® é uma suspensão estéril que contém o vírus da hepatite A (cepa HM 175) inativado com formaldeído e adsorvido em hidróxido de alumínio. O vírus é propagado em células diploides humanas MRC-5. Antes da extração do vírus, as células são extensivamente lavadas para eliminar os componentes do meio de cultura. Assim se obtém uma suspensão do vírus com a lise das células, seguida de purificação, empregando-se técnicas de ultrafiltração e de cromatografia em gel. A inativação do vírus é obtida pelo tratamento com formaldeído.  

É indicada para a imunização ativa contra a doença causada pelo vírus da hepatite A (VHA) em indivíduos com risco de exposição a esse patógeno. A vacina não protege contra infecções causadas pelos vírus das hepatites B, C, D e E nem por outros patógenos capazes de infectar o fígado.

Esta vacina não deve ser usada em mulheres grávidas; Classificação de Risco D.

Adultos a partir de 19 anos:  

Na vacinação primária, usa-se a dose única da vacina para adultos, na concentração de 1.440 U. EL./1,0 mL de suspensão.  

Crianças e adolescentes de 1 a 18 anos (inclusive): 

Na vacinação primária, usa-se a dose única da vacina pediátrica, na concentração de 720 U. EL./0,5 mL de suspensão.

Vacinação de reforço 

Após a primeira dose de Havrix® de 1.440 U. EL./1,0 mL ou de 720 U. EL./0,5 mL, recomenda-se uma dose de reforço entre 6 e 12 meses, para assegurar proteção por tempo prolongado.  

VAQTA®

VAQTA® é uma suspensão injetável estéril para administração intramuscular. A vacina é apresentada em cartuchos com 1 frasco-ampola contendo dose de 25 U/0,5 mL para uso em pacientes pediátricos e adolescentes, e em cartuchos com 1 frasco-ampola contendo dose de 50 U/1,0 mL para uso em pacientes adultos.

É indicada para a prevenção da infecção causada pelo vírus da hepatite A. Recomenda-se a vacinação de crianças acima de 12 meses de idade, adolescentes e adultos que corram risco de contrair, de disseminar a doença ou de apresentar infecção fatal, se infectados.

VAQTA® deve ser administrada somente por via intramuscular.  

Para adultos, adolescentes e crianças com mais de 2 anos de idade, o músculo deltoide é o local preferencial para injeção intramuscular. 

Para crianças com idade entre 12 e 23 meses, a área anterolateral da coxa é o local preferencial para injeção intramuscular. A vacinação consiste na administração de uma primeira dose e de uma dose de reforço, administradas de acordo com o seguinte esquema: 

Crianças/Adolescentes – 12 meses a 17 anos de idade: indivíduos de 12 meses a 17 anos de idade devem receber primeiramente a dose única de 0,5 mL (aproximadamente 25 U) da vacina e, 6 a 18 meses depois, dose de reforço de 0,5 mL (aproximadamente 25 U). 

Adultos: indivíduos com idade maior ou igual a 18 anos devem receber primeiramente a dose única de 1,0 mL (aproximadamente 50 U) da vacina e, 6 a 18 meses depois, dose de reforço de 1,0 mL (aproximadamente 50 U). 

Adultos com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV): adultos HIV-positivos devem receber a dose única de 1,0 mL (aproximadamente 50 U) da vacina e a dose de reforço de 1,0 mL (aproximadamente 50 U) 6 meses depois. 

Intercambialidade da Dose de Reforço Pode-se administrar uma dose de reforço da VAQTA®, 6 a 12 meses após a primeira dose de outras vacinas hepatite A (inativada).

Regra Geral:

Crianças precisam de 2 doses da vacina contra hepatite A: Primeira dose: 12 a 23 meses de idade Segunda dose: pelo menos 6 meses após a primeira dose 

Bebês de 6 a 11 meses de idade viajando quando se recomenda proteção contra a hepatite A devem receber 1 dose de vacina contra a hepatite A. Essas crianças ainda devem receber 2 doses adicionais nas idades recomendadas para uma proteção duradoura. 

Crianças e adolescentes de 2 a 18 anos que não foram vacinadas anteriormente devem ser vacinadas. 

Adultos que não foram vacinados anteriormente e desejam se proteger contra a hepatite A também podem receber a vacina. 

A vacina contra a hepatite A também é recomendada para as seguintes pessoas: 

  • Viajantes internacionais 
  • Homens que tiveram contato sexual com outros homens 
  • Pessoas que usam medicamentos por injeção ou não injetáveis 
  • Pessoas que têm riscos ocupacionais de infecções 
  • Pessoas que preveem contato próximo com um estrangeiro 
  • Pessoas em situação de rua 
  • Pessoas com HIV Pessoas com doença hepática crônica 

Além disso, uma pessoa que não tenha recebido anteriormente a vacina contra a hepatite A e que tenha contato direto com alguém com hepatite A deve receber a vacina contra a hepatite A o mais rápido possível e dentro de 2 semanas após a exposição.

imagem: autoral – Andréia Nobre

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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