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1- O que levou ao senhor Dr. Luciano Mamede Jr. a trabalhar com a docência farmacêutica? Foi uma escolha própria ou uma oportunidade que surgiu em sua carreira farmacêutica? Conte-no um pouco de sua história.
Trabalhei durante quase 10 anos na indústria farmacêutica, e uma das minhas atribuições era garantir a qualidade dos produtos fabricados através de estratégias, dentre elas, ministrar treinamentos. Isto proporcionou que eu desenvolvesse habilidades em repassar conteúdos e capacitar pessoas de forma dinâmica e eficaz, de forma prazerosa e profissional. Sendo assim, num dado momento, resolvi transpor esta nova dinâmica de trabalho para a formação de novos profissionais, o que me fez buscar a inserção na vida acadêmica.
2- Na sua opinião, quais são os maiores desafios na licenciatura Universitária?
Atualmente, o maior desafio é formar profissionais que atendam a necessidade da população de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Farmácias. Proporcionar um ensino que forme farmacêuticos generalistas, críticos e reflexivos, é uma missão difícil. O mercado cada vez mais competitivo, a precarização do trabalho pela reforma trabalhista e o faculdades com estrutura deficiente, são dificuldades que dificultam o processo de licenciatura em muitos casos.
3- Como o senhor analisa a evolução da grade curricular do curso de farmácia ao longo dos últimos dez anos?
Complicada em virtude das inúmeras mudanças conceituais inseridas. Mas penso que é extremamente necessário ter revisto todo este processo, pois antigamente a pluralidade nacional dos currículos e do processo de formação não formava uma identidade sólida ao profissional. Tínhamos disciplinas extremamente técnicas que não conversavam entre si. Hoje temos uma proposta dos farmacêuticos como ele deve ser, com conhecimento em diversos eixos, modulares, de forma multidisciplinar e, até mesmo, transdisciplinar, que podem atuar tanto no setor público quanto na iniciativa privada. Temos a química conversando com a gestão, a anatomia, a biologia, a tecnologia farmacêutica, etc.
4- Quais estratégias o senhor adota para se aliar a teoria a prática?
No processo docente, utilizo o maior número de ferramentas pedagógicas possíveis.A minha formação profissional de “chão de fábrica” e minha experiência no SUS como fiscal sanitário e gestor tem me auxiliado bastante. Utilizo a problematização, aulas expositivas e dialogadas, leitura, interpretação e discussão de artigos científicos relacionados à área, dos periódicos, exposição de vídeos e/ou uso de “softwares” no laboratório de informática, visitas técnicas em ambientes de trabalho reais, estudos de casos e aprendizado baseado em problemas, dentre outras.
5- Ao seu ver, qual a importância da pesquisa na graduação?
Sem pesquisa o profissional não é completo! A pesquisa aguça o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para o bom farmacêutico, tais como, pensar em soluções eficazes, constituir planejamentos de trabalho, trabalhar em equipe, entre outros. O tripé universitário de pesquisa, ensino e extensão é fundamental!
6- Como está o perfil do acadêmico de farmácia em 2018?
Ainda preocupante, pois existem muitas faculdades sem compromisso! Eu não credito em cursos com aulas a cada 15 dias e muito menos em educação integral à distância. Temos muitas faculdades muito boas, mas o mercado também está sendo alimentado por alguns profissionais que mal sabem escrever. Absurdo! Existem muita faculdades que “facilitam” a vida dos alunos e ele acaba sendo aprovado de qualquer jeito. O famoso “pagou, passou”. É preciso mais investimento na educação de base e um melhor crivo na entrada nas faculdades, assim como maior fiscalização e apoio do MEC. Estamos numa fase de transição e adaptação que não permite traças um perfil do que existe com precisão.
7- Na sua opinião, por que o maior receio do farmacêutico prestes a se formar é o de não estar preparado para o mercado de trabalho?
Justamente por causa da deficiência do ensino em algumas instituições. É preciso um suporte político-pedagógico próximo ao aluno e que garanta que ele vivencie o conhecimento adquirido em sala de aula na prática. Quando o aluno é bem preparado, o medo do novo diminui e ele ousa mais. Mas para isso, os professores também precisam estar bem preparados.
8- Com base na sua vasta experiência na carreira farmacêutica, quais os primeiros passos o farmacêutico recém formado deve dar, para ser bem sucedido em encontrar o seu primeiro emprego?
Continuar estudando! Qualificar-se sempre. Participar de eventos, cursos, ler bons artigos, revistas e ousar! Ter um plano de carreira e não ceder nos primeiros obstáculos. Subir cada degrau com dedicação e ética, ter uma boa rede de contatos e nunca desistir! Pode parecer teórico demais isso, mas é uma receita que eu adoto e sempre me deixou feliz na minha profissão.
9- Por que é um grande diferencial ao farmacêutico estar totalmente ciente e atualizado em relação ao código de ética Farmacêutico e a Deontologia farmacêutica?
O Código de Ética, as normas e leis vigentes não podem ser encaradas como um obstáculo. Eles são o caminho para o que a sociedade e o profissional vivam num estado de bem estar. Além disso, não define somente deveres e obrigações, mas os nossos direitos enquanto profissionais. Ajuda a proteger a atuação profissional. No mundo em que os processos éticos, a responsabilidade civil e criminal, e a informação acessível estão cada vez mais evidentes, o profissional precisa ter ciência dos seus limites éticos e sociais.
11- Qual sua opinião sobre o exame de proficiência para Farmacêuticos?
No momento, que fique claro, neste exato momento, sou contra. Precisa ser mais discutido. Não acho que esta seja uma atribuição do nosso Conselho Federal e nem que ele esteja preparado para conduzir este processo. Precisa ser instituído um fórum amplo e democrático de debate com as faculdades, sindicatos, federação e associações. O que precisa ser feito com urgência é um melhor crivo pelo MEC, não permitindo o ensino EAD integral e, muito menos, faculdades que não tem estrutura ou ministram aulas a cada 15 dias!
12- Para o senhor, quais benefícios terá a profissão farmacêutica se os farmacêuticos também começarem a vislumbrar uma carreira no cenário político brasileiro?
Inúmeros! Infelizmente não temos tantos representantes que levantem nossas bandeiras. Precisamos nos engajar mais no controle social e nas discussões políticas. Os sindicatos precisam ser fortalecidos e os conselhos precisam ser mais democráticos. Temos pautas importantes no Congresso, como a plena inserção do farmacêutico no SUS, jornada máxima de 30 horas e piso salarial nacional. Mas somos fracos na articulação. Precisamos buscar mais espaço e unir-nos, ou os avanços ainda serão muito discretos. Mas ainda acredito em dias melhores e continuarei lutando por isso!
Profº Dr. Luciano Mamede de Freitas Junior
Doutor em Ciências da Saúde – UFMA
Chefe do CEREST/MA – SES
Farmacêutico, Fiscal Sanitário – SEMUS
Diretor de Formação Sindical da FENAFAR
Vice-Presidente do SINFARMA
Coordenador da Escola Nacional dos Farmacêuticos
Discente do Curso de Direito – UFMA
Professor e Coordenador de Estágio do Instituto Florence de Ensino Superior
Telefones: (98) 99110-1144/(98) 99206-5162
autores da entrevista: Dr. Vinícius Lobo e Dra Andréia Nobre